Ingestão emocionaI na Menopausa
Chega a casa depois de um dia de trabalho. Está cansada, chateada, até frustrada. Senta-se no sofá e liga a televisão. De repente lembra-se que tem um chocolate no armário e “era mesmo aquilo que lhe apetecia”. Come-o. E até parece que se sente melhor…
Esta situação é-lhe familiar? Não é a única. Este tipo de comportamento de ingestão emocional é realizado por muitas mulheres, sobretudo quando chegam à menopausa.
Quando falamos de menopausa temos de nos debruçar, entre outras coisas, sobre um padrão que tem vindo a ser cada vez mais frequente nesta fase: as alterações no comportamento alimentar. Muitas mulheres referem um aumento no apetite, um maior prazer com a alimentação, uma maior ingestão de alimentos ou ainda um “comer” porque se “está triste, cansada ou ansiosa”.
É precisamente este comportamento, o consumir determinados alimentos, normalmente mais palatáveis e calóricos, em resposta a certos estados emocionais (sobretudo mais negativos), a que chamamos de ingestão emocional que surge, desta forma, como uma resposta psicológica disfuncional a uma determinada emoção experenciada.
Num estudo científico com mulheres na menopausa, realizado recentemente em Portugal pela nossa equipa, constatou-se que a maioria das mulheres recorria à alimentação como forma de lidar com determinadas emoções, no entanto, muitas não tinham consciência desse comportamento e, inclusive, de que isso poderia ser um fator (entre vários outros) que estava associado ao aumento de peso nesta fase.
Voltemos ao dia em que chegou a casa, cansada e frustrada, e comeu o tal chocolate, deitada no sofá. Para além de ser palatavelmente saboroso, parece que ainda amenizou e por momentos dissipou aquela emoção negativa que sentia. Mas passado um tempo (dias, semanas), outras emoções negativas emergem, por variadas razões, e a comida pode surgir novamente como uma resposta desadaptativa. Porque no passado esta estratégia até “funcionou” e neste momento é exatamente disso que precisa. Pode começar aqui um ciclo vicioso, com inúmeras consequências.
A ingestão emocional está correlacionada com o aumento de peso e com o desenvolvimento da obesidade. Para além das consequências físicas (e.g., desenvolvimento de várias doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares ou diversos tipos de cancro), há também várias consequências psico-sociais associadas, nomeadamente, estados de humor deprimido e ansiosos, imagem corporal negativa e/ou isolamento social.
Estratégias funcionais para lidar com a ingestão emocional
Ao longo da vida, é normal sentirmos emoções negativas. Mas estas podem ser particularmente mais incisivas na menopausa, quando ocorrem determinados eventos de vida que podem impactar com o nosso bem-estar (e.g., saída de casa dos filhos, divórcio, morte de familiares, alteração de determinados papéis sociais).
A resposta comportamental que teremos perante tais emoções (que até agora pode ter sido através da comida) deve ser reformulada, treinada e, posteriormente, automatizada (até se tornar num hábito)!
1. Conhecer a origem do sentimento
Quando sentir emoções mais negativas, que a possam levar a pensar em determinados alimentos, comece por perceber a origem desta emoção para que, numa situação posterior, possa antever determinados pensamentos/comportamentos
3. Gestão de impulsos
Depois de validar esta emoção, aliado à estratégia de planeamento que já tinha implementado (não ter alimentos “tentadores” em casa), pode ainda utilizar uma estratégia para gerir os seus impulsos: sair de casa e ir fazer uma caminhada, nem que seja de 10 minutos.
Mafalda Leitão, Doutorada em Psicologia da Saúde, Professora Auxiliar na Universidade Europeia
GRPT:194/05/24/NP
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